quarta-feira, 30 de maio de 2012

Resenha do livro “Os Corumbas” de Amando Fontes.


Resenha do livro “Os Corumbas” de Amando Fontes.
*Gladston Oliveira dos Passos


Lançado em julho de 1933, o livro “Os Corumbas” foi escrito por Amando Fontes (advogado, jornalista e deputado estadual em 1946). Além dos Corumbas, Fontes escreveu outro livro: Rua do Siriri. Mesmo escrito em 1933, Os Corumbas perdura como uma história atual, onde o trabalhador se esforça, porém continua na mesma miséria. O romance de Amando Fontes teve aprovação unânime ao ser publicado, a narrativa conta a história da família Corumbas, que se deslocam do povoado Ribeira, localizado no interior de Sergipe para Aracaju, a saída dos Corumbas para Aracaju, ocorre devido a seca de 1905 e com a baixa do açúcar que veio agravar mais a situação.
“Os usineiros e senhores de engenho reduziram à metade o jornal da sua gente e passaram a pagar a tonelada de cana por tal preço, que nem valia à pena plantá-la”
(FONTES, 1979, p. 9-10)
A ideia de sair do pequeno povoado partiu de Sá Josefá, esposa de Geraldo do Corumba; Sá Josefá acreditava que na capital tudo iria melhorar.
“Na capital, havia emprego decente para as duas meninas mais velhas. Era nas fábricas de tecidos. Estavam assim de moças, todas ganhando bom dinheiro... Pedro não custaria em conseguir um bom lugar, como ferreiro ou maquinista... Uma outra vida, enfim.”
(FONTES, 1979, p. 10)
Os sonhos de Sá Josefá, ao longo da narrativa são engolidos pelos efeitos perversos da vida na cidade. O romance de Amando Fontes é dividido em três partes. A primeira se passa em Ribeira, e narra a história do agricultor Geraldo Corumba, que se apaixona por Sá Josefá (meio loira, os olhos claros e fulgentes) conhecida como “ a flor da casa” Ao fim de dois anos eles se casaram, viveram dezessete anos na Ribeira e tiveram cinco filhos, quatro moças e um rapaz; Antes de migrarem para a capital, todos trabalhavam.
“Uma das raparigas chegava a fazer quatro mil réis por semana, como botadeira de cana na moenda, a mais velha se ocupava em ralar a mandioca de todos os roceiros do lugar, recebendo, como paga, entre dez a quinze litros de farinha preparada. O rapaz, que exercera já uma meia dúzia de empregos, servia agora como auxiliar do maquinista do Engenho. Até as duas menores sempre faziam alguma coisa, ajudando em casa ou na roça”
(FONTES, 1979, p. 9)

Porém com a vinda da seca, e o declínio da produção canavieira, a família Corumba parte para Aracaju, a partir daí, inicia a segunda parte do romance, onde se desenvolvem os elementos centrais da narrativa, mostrando a família situada há algum tempo na capital. O filho Pedro, jovem de dezoito anos, cabelos alourados, trabalhava como ajudante de torneiro nas oficinas de Estrada de Ferro, situadas muito longe, no bairro do Aribé, hoje conhecido como Siqueira Campos. As duas filhas mais velhas, trabalhavam, assim como Geraldo, na fábrica de tecidos. Albertina, segunda filha do casal, morena clara, olhos negros e vivos, um grande corpo bem feito e Rosenda, a mais velha de todas, morena, cabelos pretos escorridos, o rosto pontilhado de espinhas, baixa e grossa. A jornada de trabalho é discutida por Fontes contemplando as diferentes percepções das personagens à exploração da força de trabalho barata nas fábricas de tecido.
“Dentro daquela ondulante massa humana movia-se uma rapariga muito branca, de treze anos apenas. Era um frangalhozinho de gente, delgada como um vinte, a carne, de tão sem sangue, transparente, os lábios arroxeados de frio, chamava-se Clarinha e servia, como ajudante, na seção dos teares da Sergipana, venando o ordenado de quatrocentos réis por dia”
(FONTES, 1979, P. 21)
As esperanças dos Corumbas estão depositadas todas na escolarização das duas filhas mais novas (Bela e Caçulinha).
“Sentada no batente da porta do quintal, Caçulinha estudava, muito atenta, a sua lição lia em voz alta, convencida de que assim decoraria mais depressa. Era uma garota de onze anos, olhos claros, cabelos castanho-loiros, branca rosada. Tudo isso e mais o catinado de sua pele, as suas mãos feias e belas, davam-lhe certo ar de superioridade e destaque no meio pobre em que vivia. Constituía o enlevo e a alegria dos dois velhos. Era, mesmo, a máxima esperança deles. Porque, aquela, não levaria a dura vida das irmãs, arrastando sacrifícios e impossíveis, haveriam de fazê-la normalista e professora, para ter quem lhes fosse um amparo no extremo da velhice”
(FONTES, 1979, p. 23- 24)
Rosenda, a filha mais velha conhece um rapaz:
“Chamava-se Inácio dos Santos. Era mulato disfarçado, de compleição hercúlea, altura média. Tinha os cabelos duros e cresados, cuidadosamente repartidos bem no meio da cabeça, olhos baços, raiados de sangue na esclerótica, nariz grosso. A boca, continuamente arregaçada, num riso cínico e desdenhoso, deixava à mostra dois largos dentes de ouro”
(FONTES, 1979, p.38)

O namoro do Cabo Inácio com Rosenda não era aprovado pelos pais. Diante disso, e do rancor que Rosenda tinha por viver dessa forma, decide então fugir e abandonar a família. Pedro inicia uma amizade com um intelectual (José Afonso) que lhe introduz textos de Lênin e Pedro acaba se tornando comunista, se junta a um grupo de revolucionários e provoca uma grave geral na capital, os grevistas foram presos e deportados para o Rio de Janeiro. A partir daí, Sá Josefá coloca Bela para trabalhar na fábrica para ajudar as despesas da casa, porém Bela, sempre foi fraca de saúde e assim que adentra nas fábricas a sua situação piora.
“Bela deixou o serviço às duas horas e dirigiu-se logo para caras, queixando-se de fortes dores pelo corpo, as mãos e as faces escaldantes, uma tosse seca e impertinente a torturá-la”
(FONTES, 1979, p.80)
Bela passa um mês sem trabalhar e Caçulinha sugere a mãe que também comece a trabalhar nas fábricas porque ela não tem roupas, com a situação financeira precária, Caçulinha começa a trabalhar na fábrica, passado alguns dias Bela chega a falecer.
“Houve lágrimas, mas foi uma dor tranqüila, sem lamentações nem desesperos, sentiam, mesmo, uma espécie de alívio por causa deles. Mais pela que se fora, pois descansava, afinal”.
(FONTES, 1979, p. 104)
Desde que Bela estava doente,  Albertina se engraçava com o Médico que cuidava de sua irmã, conhecido como Fontoura e acabou seguindo o mesmo rumo da sua irmã.
“Era a segunda filha que viam a prostituição arrebata-lhes. Porém, dessa vez, a impressão da desonra lhes foi muito mais viva e acubrunhante. Se Rosenda fugira, fizera-o com um homem de condição igual à sua. Isso se dava a cada instante. Poderia acontecer a todo mundo. De relação à Albertina, no entanto, fora bem diferente o que se dera. Ela havia deixado a casa de seus pais para sair em companhia de um ricaço. Certo, entre eles nunca teria sido levantado a hipótese de algum dia se casarem, o interesse, portanto, apenas o desejo de se vestir melhor, trabalhar menos, tinham-na arremessado aos braços dele..”.
(FONTES, 1979, p. 123)




Porém, Fontoura sentiu-se cansado de Albertina e abandonou-a, ela acabou se mudando para a Rua do Siriri, principal centro de prostituição. Depois de seis meses da greve que havia acontecido na capital, Pedro havia mandado uma carta para seu pai onde dizia:
“Agora estou trabalhando na Gazeta, foi o único jornal que me aceitou, depois da greve que eu já mandei contar em outra carta. Tive de me sujeitar a um ordenado de esmoler”.
(FONTES, 1979, p.142)
Caçulinha, que havia ido trabalhar na Fábrica para ajudar nas despesas de casa, começou a namorar com o Sargento Zeca, durante muito tempo, ele iludia Caçulinha com falsas promessas de casamento, os dois ainda noivaram, porém não passou disso, Caçulinha ficou pressionando Zeca para se casar, mas isso não ocorreu, Zeca tirou sua virgindade e acabou não casando com ela. A fábrica não aceitava as mulheres que trabalhavam na seção do escritório, que não tivessem vida honesta, Caçulinha junto com sua mãe chegou a ir à delegacia, porém Zeca teve uma prisão preventiva. A partir daí, a única solução de Caçulinha foi ficar com um homem casado e sair de casa, esse fato finaliza a segunda parte.
Na terceira e última parte do romance, Sá Josefá vai visitar Caçulinha e informa que voltara a morar na Ribeira junto com Geraldo.
“Há seis anos tinham vindo, tão cheios de esperança... A cidade, com o ganho das fábricas, o casamento para as meninas, o professorado de Caçulinha, fora tudo ilusão, que por água abaixo descerá. Melhorar?... Não o conseguiram nunca. Perderam mesmo, o único bem que possuíam: os filhos, desgarrados por esse mundo, a outra morte, afastados de todos do seu convívio...”.
(FONTES, 1979, p. 171)
           
Portanto, o que vale ressaltar na história de Amando Fontes é o meio social utilizado na sua obra, como um espaço de injustiça, opressão e ubiqüidade, tudo isso é englobado na vida dos Corumbas, na esperança de melhorar de vida, sofrem com as condições impostas pela modernização que busca uma civilização voltada para o progresso.

*Acadêmico do curso de História Licenciatura pela Universidade Federal de Sergipe.

Fonte da imagem : www.google.com.br

Um comentário:

  1. Adorei o resumo. Li um trabalho escrito por UMA psicanalista que cita a Albertina associando com o mito de Sisifo por sua postura diante da vida... Não li Os Corumbas ainda, mas está na lista dos livros que quero ler e aprofundar. Obrigada a você por me oportunizar esse belo resumo.

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